Nesta terça-feira, 18, aconteceu às 17
horas no Jardim São Benedito, uma reunião na qual foram discutidas questões
importantes para a organização do segundo ato do Movimento Cabruncos Livres. Em
linhas gerais, a reunião contou com muitos participantes e algumas decisões
foram tomadas. O objetivo deste texto é informar a
população campista a respeito das questões deliberadas.
A primeira questão levantada diz respeito ao processo de politização do
movimento. Faz-se necessário que definamos uma pauta concisa de reivindicações.
Este processo de construção da pauta se mostra extremamente complicado, uma vez
que os manifestantes trazem descontentamentos políticos diversos. Em Campos,
não vivenciamos a tão falada "gota d'água". O Movimento Cabruncos Livres
surgiu como resultado de um sentimento de agitação coletiva que tomou conta dos
jovens do país, em decorrência da aderência massiva ao Movimento Passe Livre
que se iniciou em São Paulo. Muitos jovens pela primeira vez descobriram-se
agentes políticos e mostram-se eufóricos por estarem presenciando um movimento
que parece ser inédito na história dos movimentos populares do Brasil. De fato,
amigos, temos em nossas mãos a oportunidade de modificarmos drasticamente a
conjuntura política e social de nosso país. No entanto, devemos estar cientes
de que é fundamental que nos organizemos e não nos desmobilizemos. É de
fundamental importância que nos orientemos em busca de uma pauta de
reivindicações capaz de nortear o nosso movimento. Sabemos que não podemos
permanecer apenas como um ato que apoie os movimentos que acontecem no âmbito
nacional; precisamos incorporar as demandas do povo campista.
Eis os principais problemas apontados pelos manifestantes para a composição da
pauta de reivindicações do movimento:
- O sucateamento da rede de transporte público: a condição precária dos
automóveis, a escassez de linhas que atendam satisfatoriamente a população, a
condição do terminal da Beira Rio e os demais pontos de ônibus;
- A precariedade da condição dos hospitais públicos da cidade: a falta de
profissionais da área da saúde, a falta de material médico-hospitalar, a falta
de leitos para atender a todos os necessitados que amontoam-se nos corredores
dos hospitais, o enorme tempo de espera na fila para marcar/fazer exames;
- A precariedade da educação no município, que está em último lugar no ranking
do IDEB: A defasagem das escolas públicas, a falta de professores, a falta de
assistência aos mesmos, a falta de merenda escolar, a falta de creches;
- A má administração dos royalties do petróleo: a cidade possui um dos maiores
orçamentos do Estado, que não é utilizado de maneira a atender as necessidades
mais básicas da população.
Estas são as questões que aparecem com mais frequência nas demandas dos
manifestantes. Há alguns meses, os governos municipal e estadual organizaram
imensas manifestações contra o Projeto de Lei que propunha uma redistribuição
do dinheiro dos royalties do petróleo para os municípios não produtores, o que
diminuiria consideravelmente o orçamento dos municípios produtores. Percebemos
que a má administração dos royalties está totalmente relacionada à má
consecução dessas políticas públicas identificadas como deficientes. Pensamos,
então, em tomar como principal bandeira a melhor administração/aplicação dos
recursos provenientes dos royalties do petróleo. Levando em conta a amplitude
do movimento, entendemos que a existência de uma bandeira principal que guie o
nosso protesto irá consolidar a construção da unidade da manifestação.
A confecção de uma pauta principal não exclui outras questões que viremos a
discutir à medida em que se avança com o movimento. São algumas delas: a
questão da violência no campo, a construção da Lei Orgânica do município, a PEC
37, o Estatuto do Nascituro, a Cura Gay e a própria constituição da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados; dentre outras bandeiras que poderão
ser trazidas ao debate.
A segunda questão diz respeito ao envolvimento dos partidos políticos na
manifestação. O coletivo que organiza de forma horizontal a construção do
movimento, entende que devemos adotar uma postura suprapartidária. Ou seja,
tendo em vista a iniciativa de alguns partidos políticos orientados pela
ideologia de esquerda em compor o nosso protesto, decidimos, embasados por
votação feita na reunião do dia 18, que a participação desses partidos será
bem-vinda. No entanto, solicitamos que os partidários usem de bom senso e não
utilizem suas bandeiras e seus símbolos para descaracterizar o movimento.
Exemplo: utilizar bandeiras do partido que se sobreponham muito às outras
bandeiras e cartazes.
O suprapartidarismo consiste numa postura que aceita o apoio dos partidos de
esquerda que há muito tempo lutam pelos direitos dos cidadãos desse país.
Deixando de lado as diferenças ideológicas entre esses partidos, consideraremos
o apoio desses indivíduos que querem integrar e ajudar na consolidação do
movimento. Reforçamos que nenhum partido se apropriará da liderança da
manifestação. Não pensamos que devemos afastar esses partidos de nossa luta, pensamos
que devemos nos apropriar desses partidos ao invés de não incluí-los no nosso
movimento. Defenderemos a liberdade dos indivíduos de manifestarem suas
convicções políticas, e repudiaremos qualquer atitude violenta contra os
manifestantes que estiverem vestindo camisas ou quaisquer outros símbolos de
seus partidos.
A terceira questão diz respeito ao jornalista da Rede Globo que foi vaiado e
agredido verbalmente pelos manifestantes e impedido de realizar seu trabalho. O
movimento se opõe às empresas de comunicação que monopolizam a distribuição das
informações no país e repudia as tentativas de distorção dos fatos relacionados
aos movimentos em todo o Brasil. Percebemos que recentemente esses meios de
comunicação que atendem a interesses de grandes corporações empresariais tem
"mudado de ideia" quanto ao caráter desses movimentos, e isso se
configura num motivo de preocupação. Devemos temer uma tentativa de apropriação
desses movimentos populares por parte de setores muitos conservadores da
sociedade e atentarmos para os seus reais objetivos. Não devemos permitir que
essa manifestação enviese-se e abrace ideais reacionários muito nocivos à
sociedade brasileira como um todo. No entanto, não impediremos que os
jornalistas realizem seu trabalho e pedimos aos manifestantes que respeitem os
profissionais. Incentivamos protestos contra as empresas de comunicação, mas
devemos respeitar a liberdade de imprensa. Deixem que filmem, que entrevistem e
estejamos atentos para a coerência da cobertura jornalística dessas empresas.
Finalizamos querendo ressaltar que este é apenas um primeiro esboço do
manifesto; um documento que representa nossa posição ideológica, que define o
que esperamos que aconteça no âmbito da manifestação, que dê uma primeira
definição de nossas reivindicações políticas. Iremos aperfeiçoando o documento
à medida em que formos caminhando e adquirindo experiência, que ganharemos
gradativamente nos debates que acontecem nas reuniões e na própria manifestação
que acontece na rua. Aproveitamos para pedir que os interessados na construção
do movimento não deixem de comparecer às reuniões para expressar suas opiniões
e dessa forma participar dos processos deliberativos. É importantíssimo que o
povo traga suas ideias. E todas as informações importantes acerca do movimento
serão divulgadas na página criada pela organização do Cabruncos Livres.
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